Há belos e esplendorosos cinco anos atrás, onde de lá até os dias de hoje aconteceram varias catástrofes por todo mundo, quatro jovens da cidade de Mossoró (RN) pisavam em terras recifenses numa noite de total instigação e festança no bar do Furgão (bar lendário): o Cätärro.
Após todo esse tempo que passou a rapaziada esta de volta à Hellcife no dia 28 de Janeiro de 2012, cidade aonde o movimento underground vem se mantendo firme (como pode) para dar uma animada na moçada recifense.
Deixo agora de lero-lero e vamos ao que interessa.
O entrevistado de hoje é Pedro Henrique, cantor do Cätärro, que vai contar um pouco da banda e vários assuntos que fogem totalmente do contexto musical.
HDP – Primeiramente quero dizer que eu estou muito puto por ter perdido o show de vocês em 2006, no furgão. Como foi naquele dia que vocês tiveram aqui? Descreva (em nome do Cätärro) o quanto vocês curtiram.
Pedro: Curtimos muito, rolé total Charles Bronson. Nunca tinhamos saído para tocar tão longe e estávamos no início de uma tour que seria finalizada em Salvador. Em Recife fomos certamente recepcionados pelos caras mais loucos da tour. O pessoal do Corroídos Pelo ódio, Nômades e Ginásio Pernambucano fez com que nossa empolgação triplicasse. Foi naquele dia no Bar do Fogão que fizemos amizades que até hoje duram, além de termos revisto os amigos do Nômades e Rabujos. Tocamos numa droga de bar que mal nos cabia e tinha mais uns 30 malucos ao nosso redor, na calçada estava a senhora que vende espetinhos reclamando o tempo inteiro e no meio da rua dezenas de malucos polgando em um violento circle-pit. Eu nunca entraria em uma roda como aquela, a não ser que me dessem capacetes e joelheiras, pois estava violento de verdade e ainda assim todo mundo estava feliz. Hoje a roda está menos violenta e mais performática pelo que pude perceber, graças a importantíssima participação feminina que aumentou.
HDP – O que você tem percebido de mudança na cena underground regional da sua cidade e nacional?
Pedro: Além da supracitada participação feminina que aumentou, o pessoal do nordeste está se levando mais a sério. Muita banda carrega uma ideologia de que tem que ser punk, tem que ser imundo, punk sujo, tem que fazer gravação ruim, quando na verdade uma coisa é diferente da outra. Gravação suja é uma coisa, gravação ruim é outra coisa. Não quero qualificar bandas tirando por base suas gravações, mas por muito tempo as gravações não recebem o devido valor, são feitas de qualquer jeito e as vezes não cativa nem os amigos mais próximos. Mossoró mesmo que é de onde somos, tem surgido bandas bacanas que estão circulando pelo Brasil com material bacana. Percebo também uma integração do punk com os festivais da chamada música independente, que pode ser positiva a depender do modus operandi dessas uniões. O zine de papel resiste, mas arqueja. Ele é mais forte do que parece e percebo que está em baixa, mas não morto. E cada dia mais surgem eventos que agregam música a outras manifestações que combatem comportamentos fascistas e surgem também pequenas cidades interioranas na cartografia do punk.
HDP – Depois da saída de Leitão (guitar) a banda conseguiu permanecer a mesma linhagem, rápida, caótica e truculenta de sempre ou sofreu modificações (para melhor)?
Pedro: Não dá para dizer que está do mesmo jeito por causa de Farofa, nunca vai estar do mesmo jeito por que ele evolui a cada segundo. Tirando isso tudo continua do mesmo jeito. Disconexo e malevolente. É como apontou o nosso amigo Ivo Fernando “Carisma e Jovialidade em Nome do Powerviolence”.
HDP – Vi que vocês participaram de uma role com o Conquest For Death (onde tive a oportunidade de também sacar o show dos caras no Festival DoSol) dia 7 de Novembro no Flecha na Goela em Mossoró. Conte-me um pouco como foi esse role com os caras?
Pedro: Foi um dos acontecimentos mais gratificantes em nossos 9 anos de banda. A gente nunca tocou por dinheiro, a gente toca pelo prazer de estar junto. Qualquer outro valor ideológico agregado sobrevive em uma outra atmosfera. Musicalmente fomos fortemente influenciados por esses caras. Desde antes de o Cätärro existir a gente ouvia What Happens Next?. Foi uma banda que eu tinha riscado em minha calça jeans do ensino médio. Daí chega um belo dia e você toca na mesma festa que eles, em nossa não mais provinciana Mossoró. Não existiu vaidade, não existiu um super produtor por trás. O pessoal do Flecha na Goela fez a parceria conosco, que cada um tirou uma quantia X do bolso para bancar os custos para eles irem a Mossoró. Não existiu cachê, existiu transporte, alimentação e carinho, do mesmo modo que o Cätärro vai para Recife, por exemplo. As vezes a gente se frustra quando admira alguém, nessa ocasião ocorreu o inverso.
HDP – Fugindo um pouco da musicalidade, quais outros trabalhos você tem realizado ultimamente?
Pedro: Nós da banda estamos com alguns projetos a serem desenvolvidos no Beco das Frutas. Realizaremos uma conferência sobre cinema underground e outra sobre fanzinato e estaremos trazendo o chef ativista Alan Chaves para conjuntamente realizarmos atividades ligadas ao vegetarianismo. Participamos sempre intensamente da Bicicletada Mossoró e Farofa está com um projeto na praia de São Cristovão, onde está dando aulas de percussão e surf para os nativos. Cristovão tem se tornado a primeira casa dele, fica a meia hora de Mossoró e àquela pequena população sofre com o tráfico de drogas que perturba a calmaria.
HDP – Fiquei sabendo (quer dizer, pesquisei osso na net, rsrs) que a Escola Rotary aí de Mossoró recebeu um prêmio de Escola de Qualidade, onde recebeu durante cerimônia um cheque no valor de R$ 9 mil, como reconhecimento do trabalho desenvolvido. Não sei se você já estudou nela na sua época de infância, mas queria saber qual a sua visão sobre esta premiação, se foi importante para educação para os mossoroenses?
Pedro: É importante sim, as crianças precisam da escola. Sempre precisaram, mas a referência maternal e paternal está se perdendo e deixando de ser um bom exemplo a ser seguido. Sou professor de geografia na rede estadual e vejo como é desesperador o quadro de crianças sem perspectivas positivas para o futuro. A nossa educação pública é sucateada o que se reflete em um corpo docente pouco esforçado. Essa premiação da Escola Rotary é o exemplo de uma equipe que trabalha com educação, por que escolheu trabalhar com educação. Isso se deve à administração do Rotary que é financiado pela entidade internacional Network. A maior problemática sócio-urbana que vivemos é a violência. Mossoró vive uma fase de metropolização, e o seu crescimento acelerado não suporta a sua crescente densidade populacional. Então as classes D e E são segregadas e assim enxergam menos possibilidades de uma prospera vida. Sem educação todas essas lacunas são acentuadas. Eu só conheço a boa reputação da Escola Rotary, por que trabalho na área. Infelizmente essa premiação da Rotary é importante para aqueles que lá estudam e podem desfrutar dessa educação, nas outras escolas de Mossoró as crianças continuam sem futuro, sem família e sem horizonte.
HDP – É verdade que você tem uma ligação muito forte com o ciclismo ou só pratica apenas por diversão?
Pedalando sem destino... |
HDP – Quais são as novidades que o Cätärro traz agora para o ano 2012, onde esta prevista a chegada do “fim do mundo”?
Pedro: A ideia é que em 2012 lancemos disco novo e em 2013 façamos uma tour internacional. Depois disso o mundo pode acabar.
HDP – Você acredita que o mundo irá se acabar em 2012?
Pedro: Acaba não. Xambs resolveu ficar mais um ano em New Jersey, ela deve voltar para cá antes que tudo se exploda.
HDP – Qual é a expectativa de poder estar voltando novamente para Hellcife?
Pedro: O pessoal prometeu espuminhas de carnaval, papel picado e apetrechos de putaria, não há como estar pouco ansioso.
HDP – Conte um pouco de como surgiu o Cätärro desde a época da demo “Pena de Morte”?
Pedro: O Cätärro surgiu em uma conversa entre Aninho e eu. Voltávamos caminhando da casa de Leitão e dialogamos:
- Vamo montar uma banda?
-Massa!
- Vamo escolher um nome bem feio, bem agressivo, um nome bem foda!
-Massa!
-Que tal Cätärro?
-Massa!
Só não consigo lembrar quem disse o quê, mas o início da banda foi bem instintivo e nossas pretensões sempre foram bem definidas. Na primeira semana que montamos a banda, fizemos dezenas de letras, dezenas mesmo. Depois chamamos Leitão para tocar, ele só tinha um violão velho. Fizemos as primeiras músicas do Cätärro no violão. Depois Aninho passou no Cefet e ganhou um baixo, Leitão tocava com guitarra emprestada e convidamos Farofa, que já tinha bateria. E em poucos meses de banda já fomos para Natal gravar a demo com 14 músicas. Sempre fomos empolgados, desde o primeiro minuto que a banda surgiu em 2003, passando pelo primeiro ensaio em 2004 até hoje com a nova formação e as novas músicas.
HDP – “Dance Império, Dance” foi o lançamento que marcou para a cena underground, como um dos álbuns mais brutais e caóticos da história do Power Violence e que vai ficar sempre marcado a todos que escutam veementemente esta arte sonora. Fale um pouco com suas próprias palavras o quanto este álbum contribuiu para a nossa cena?
Pedro: Até hoje considero o grande álbum de minha vida, considero também o grande álbum de Mossoró. O "Dance Império, Dance" surgiu em um momento que as bandas de powerviolence estavam morrendo. A banda surgiu nos moldes de Vila Velha, fomos fortemente influenciados pelo Jazzus, Ajudanti di Papai Noel e Chuck Norris. Hoje nenhuma dessas bandas existe e somos praticamente os órfãos dessa geração. As composições carregam muita raiva e foram captadas com uma qualidade bem superior a muita coisa que circulava no momento. O mais surpreendente é que foi um disco feito por 4 matutos de Mossoró, que rapidamente emplacou em todo o Brasil e foi o responsável pela nossa tour no sudeste, centro-oeste e sul do país. As vezes fico achando que todos esses relatos tem um valor histórico apenas sobre nós, integrantes do Cätärro, mas vez por outra alguém chega para mim dizendo “esse álbum mudou a minha vida”. Soa engraçado, soa surreal, mas é verdade. Acho também válido creditar Fabricio Carvalho e Rodrigo Magnani, que foram os produtores desse disco. Campamos tudo e mixamos no Studio deles em Fortaleza, a mesma dupla foi responsável também pelas 2 demos da Shit and Run, demo do Facada, Neurose XXI do Diagnose e Hora do Herói Cair do Vingança.
HDP – Qual foi um dos melhores momentos já vividos pela banda nessa empreitada de destruição desde o inicio da banda, em meados de 2004?
Pedro: Os melhores momentos são as turnês, que são os momentos que mais conseguimos viver como banda. Dormimos e acordamos juntos e a maioria dos assuntos discorridos são sobre nossas vivências, músicas e amigos. Essa coisa de turnê fez a banda unir-se mais, longe de casa a gente precisa cuidar mais um do outro.
HDP – Me diga em três palavras: o que o Cätärro representa para você?
Pedro: Vivo para Isso!
HDP – A Hard Day Prod. agradece imensamente sua entrevista, Pedrão! Alguma mensagem para a turma?
Pedro: Mensagem para Recife e João Pessoa: Além dos apetrechos de putaria, levem capacetes e cotovelera, vamos rolar doidos no chão até o dia clarear!
Mensagem para todo o mundo: Pratiquem esportes!
FIM!
É isso aí pessoal, dia 28 tem Cätärrädä aqui em Recife:
Ansioso pela vinda em João Pessoa!!!
ResponderExcluirVenha para o de Recife também meu chapa :)
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